A medicina é profissão milenar, arvorada na nobre missão de acolher, cuidar, atenuar sofrimentos, aconselhar e, em alguns casos, erradicar ou curar enfermidades. Caminha lado a lado com a ciência que, em seus experimentos e também no empirismo, vai validando e balizando a prática médica, sempre aberta aos avanços, inovações e descobertas, sempre voltadas para a sua atuação essencial, em prol da vida humana.
Os atributos da área afetiva norteiam a atividade médica em sua vertente assistencial, quais sejam: caridade, honestidade, altruísmo, ética e, em grande medida, o sacerdócio. Como em qualquer outra profissão, também objetiva o sustento de quem a pratica e, neste quesito, sempre foi considerada uma atividade viável economicamente e com possibilidade de significativo sucesso profissional, tanto em reconhecimento, quanto em notoriedade e na prosperidade da carreira.
Importante mencionar que são os avanços da medicina que refletem em muitos avanços sociais, no que tange à superação de recordes nos esportes, melhoras na qualidade de vida e na expectativa de vida da população, dentre muitas outras contribuições.
A formação de um médico pressupõe toda uma jornada estudantil de bom desempenho, passando o então aluno a todas as etapas do ensino fundamental e ensino médio, com retenção de bons aprendizados, boas notas escolares e adequada motivação. Na universidade, após ser aprovado em concorrida prova do ENEM, sobrevêm as dificuldades inerentes à grade curricular do curso e à vida estudantil como um todo. Me refiro à dedicação exclusiva ao curso, profundidade e extensão das diversas disciplinas, contato inicial com a anatomia, fisiologia, embriologia, citologia, genética (só para citar algumas disciplinas), o contato com o paciente, as avaliações, as noites em claro, os plantões e o contato com o “mundo do trabalho”, a convivência com a dor, a convivência com a morte, a dificuldade de cuidar da sua própria saúde, dentre tantos desafios.
Uma vez graduado os desafios se ampliam, relacionados às exigências do mercado de trabalho, à captação e fidelização de clientes, ao relacionamento com as operadoras de saúde, com o SUS, com a Residência Médica, com as capacitações através de congressos e outros cursos, com o relacionamento harmônico com colegas, com gestores e, em especial, o aperfeiçoamento contínuo no trato com o paciente/cliente.
Na linha do tempo, o conhecimento vai se desdobrando de forma exponencial em todas as áreas do saber e na medicina também é assim. Isso requer um comprometimento ainda maior de quem se dispõe a estudar e atuar na medicina, além do aspecto regulatório, representado pelo Conselho de Classe, sempre atuante em função da defesa da prática médica regulada e de qualidade, além, é claro, dos aspectos éticos.
Em paralelo a essa necessária contextualização, entramos agora nos aspectos relacionados e inerentes aos novos profissionais médicos. Mesmo não entrando no mérito da formação acadêmica, posto que satisfatória, devemos lembrar que, em sua maioria, são profissionais que nasceram próximos da virada do milênio, trazendo consigo as naturais mudanças que acompanham a evolução das gerações humanas. A chamada Geração Z, didaticamente considerando os nascidos entre 1997 e 2012, são os nativos digitais, tecnológicos, acostumados a novos formatos de família, a novos valores sociais e outros referenciais relacionados à carreira, à visão de mundo, à biodiversidade etc. Essas características são salutares sob vários aspectos. Em relação à atividade médica, há que se fazer ajustes e adequações. Neste sentido, fica o alerta: “A tecnologia viaja em nave espacial, mas a alma humana viaja de camelo”. Ou seja, nunca um profissional médico poderá deixar esse hiato existir, buscando a adequação entre todo o aparato tecnológico e a disponibilidade de informações científicas, de um lado, e do outro lado o fragilizado paciente/cliente, com as carências físicas e emocionais que, como dito na frase acima, não acompanha todo esse turbilhão de novidades do mundo moderno.
O novo médico(a) terá que lidar com o desafio de transitar, portanto, do ambiente acadêmico, cheio de inovações, para a prática clínica, estando apto a tomar as decisões corretas diante das situações clínicas com as quais irá se deparar. Do mesmo modo, terá que adequar o seu “mindset” com as longas horas de trabalho, plantões e jornadas duplas ou triplas, comuns na atividade médica.
Em adição, terá que avaliar e decidir sobre a especialidade que queira praticar, haja vista a concorrência crescente, especialmente nos grandes centros urbanos. Importante mencionar que em Minas Gerais já são quase 50 faculdades de medicina em atividade. No aspecto financeiro, pode haver uma frustração, já que muitos entram no mercado tendo compromisso com altas dívidas contraídas durante a formação acadêmica – empréstimo estudantil. Me refiro à dívida principal, relacionada ao financiamento do curso. Em alguns casos, esse numerário se aproxima da cifra de um milhão de reais. Este é um ponto nevrálgico porque pode trazer junto o risco de estresse, sobrecarga de trabalho e descompensações do tipo “burnout”. A classe médica, infelizmente, detém entre os seus profissionais, altos índices de dependência química, doenças mentais, vícios e suicídio.
A carreira dos médicos recém-formados, portanto, é repleta de desafios que vão além dos conhecimentos técnicos e científicos adquiridos durante a formação acadêmica. Além dos já mencionados, somam-se os desafios permanentes para uma adequada comunicação com os pacientes, familiares e com todos os profissionais envolvidos na prática médica, aqui importando a necessária e salutar boa convivência com equipes multidisciplinares. Tudo isso caminha em paralelismo com o comportamento ético, com a deontologia, com o enfrentamento de dilemas éticos com os quais irá se deparar, com a resiliência para lidar com eventuais processos jurídicos em seu desfavor etc. Para concluir, terá que conciliar e investir, com maestria, na sua qualidade de vida, juntamente ao seu ciclo familiar e social. Dica, convém buscar apoio e ajuda, para sua saúde física e mental, sempre que necessário. Outra dica essencial é a filiação às associações, sindicatos e cooperativas de classe, instituições que buscam, continuamente, a valorização, empoderamento, defesa, autonomia e benefícios para toda a classe.
Sejam bem-vindos, novos e nobres colegas. O Deus Esculápio os abençoam, o pai, Hipócrates, os saúdam e o patrono, São Lucas, os revestem da necessária aura de comprometimento, responsabilidade e ética. Amem a medicina e ela os amará. Inspirem-se em Avicena, Galeno, Celsius, Charcot, Freud, Sabin e tantos e tantos brilhantes médicos que pavimentaram o terreno para o nosso trabalho. Trabalhe honestamente, buscando sentido e propósito para as suas vidas. Não desistam dos pacientes, cuidem bem do prontuário de cada um deles, que lhes confiarão aspectos vitais de suas vidas. Lembrem-se que esses mesmos pacientes também vão tendo o perfil comportamental sendo moldado juntamente com os avanços e mudanças sociais. São mais informados, mais exigentes, mais co-participativos e mais inseridos nos avanços tecnológicos. Amem cada um deles, incondicionalmente. A relação entre a expectativa deles, a realidade e a vossa capacidade profissional é que vai determinar o grau de encantamento e de satisfação dos mesmos. Se a balança pender para o lado positivo, isso se chama, SUCESSO!

Contribuindo para o fortalecimento da classe médica e dos serviços de saúde do Vale do Aço.

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