
Procurei um médico. Necessitava orientação quanto a tratamento e possível cirurgia.
Durante a consulta, o médico me passou informações técnicas superficiais e fez ligeiro exame, que considerei protocolar.
Não fiquei satisfeito, pois não obtive as respostas que buscava e nem as informações que me firmassem a convicção sobre a necessidade ou não de cirurgia.
Procurei outro médico. Diferentemente do primeiro, esse segundo médico fez exames localizados, orientou-me sobre o procedimento e seus benefícios, os inconvenientes de não fazer o procedimento, fez medições, fotografou o local afetado.
Senti-me acolhido e atendido em minhas dúvidas; senti-me merecedor de atenção e gentileza.
Naturalmente fiz a cirurgia com o segundo médico, embora o primeiro tivesse até melhores referências.
Esse exemplo pode ter acontecido na vida de muita gente e pode ser do conhecimento de muitos médicos, mas a minha experiência visa reforçar a importância do atendimento médico.
O principal fator de êxito do médico é a arte de conquistar a confiança do paciente. Confiança está implicitamente associada à atenção, à paciência e à gentileza que o médico dispensa ao paciente.
ntre dois, três ou quatro médicos, escolherei sempre o que tiver mais coração, mais gentileza e mais atenção.
Augusto Murri (1841 – 1932), um dos mais ilustres clínicos italianos e inovador nas áreas de Anatomia Patológica, Histologia e Microbiologia, resumiu a atuação dos médicos: “ se podeis curar, curai. Se não podeis curar, acalmai. Se não puderes acalmar, consolai”.
Nos três verbos – curar, acalmar e consolar – está a síntese da atuação dos médicos. Curar é a missão primeira do médico. Acalmar envolve compreender, ouvir, explicar, infundir esperança, apoiar. Consolar implica aliviar a aflição e amenizar o sofrimento.
Ao curar, acalmar e consolar, o médico vê o paciente em sua integralidade: corpo, mente e alma.
Quatro séculos antes de Cristo, Platão ensinou que “ o maior erro dos médicos é tentarem curar o corpo sem procurar curar a alma. Entretanto, corpo e alma são um e não podem ser tratados separadamente”.
Os nossos corpos vivem no mundo físico, do qual tiramos a força física que os sustenta. Além do corpo, existe o mundo espiritual, com o qual mantemos contato vital, e de onde podemos extrair forças reabastecedoras.
Médicos têm um quê de divino. O médico que fica 6, 8 horas operando o paciente, sem se mover, fazendo cortes milimétricos precisos, sem se cansar, sem sentir necessidades humanas e sem sentir fome ou sede têm ajuda espiritual. O corpo humano por si não resistiria a tal esforço. Inegavelmente, eles recebem ajuda superior.
São Paulo escreveu “ o espírito de Deus habita em nós ”. Chame-se a esse espírito e à força espiritual como queiram. Talvez os médicos sejam os profissionais que mais presenciem e testemunhem forças transcendentais. Ainda que não pessoalmente em razão da especialidade, mas certamente terão ouvido testemunhos de colegas.
Por isso, o cuidado de ver o paciente integralmente em corpo e alma e a missão de curar, acalmar e consolar são as premissas que devem orientar os médicos em sua sublime missão.