Sim, pode parecer duro. Mas é exatamente isso que vem acontecendo com muitas famílias de crianças atípicas — e talvez com você também.

Na rotina intensa de cuidar de uma criança atípica, é comum que mães e responsáveis se vejam mergulhados em uma maratona de especialistas: neuropediatras, psiquiatras infantis, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas. Tudo isso na tentativa legítima de oferecer o melhor, de garantir estímulos adequados, terapias eficazes e diagnósticos precisos surge um esquecimento silencioso e perigoso: seu filho, antes de ser atípico, é uma criança.

Ela é o ser curioso que precisa brincar, movimentar, dar risada, tomar sol, pegar um resfriado de vez em quando, fazer uma arte, ter dor de barriga por comer demais ou até ter uma otite por entrar na piscina sem tampar o ouvido.

Acontece que, para muitas famílias, tudo começa a ser interpretado como parte do diagnóstico recebido, parte do mundo ATIPICO.

Há uma tendência, muitas vezes involuntária, de olhar para a criança atípica sob o filtro do diagnóstico. Tudo o que ela faz ou deixa de fazer é interpretado como parte da condição neurológica ou comportamental. Um choro pode parecer crise sensorial. Uma febre, efeito colateral de medicamento. Uma indisposição, talvez seja a estimulação intensa do dia anterior.

E nesse filtro, doenças comuns da infância podem ser negligenciadas. Gripe, infecção de garganta, verminose, problemas de visão, dificuldade para mastigar ou deglutir que não tem origem neurológica, mas sim odontológica — tudo isso pode acontecer com qualquer criança, típica ou atípica.

É nesse equilíbrio entre terapias específicas e cuidados universais que se constrói uma infância mais plena. Uma infância onde a criança é respeitada na sua singularidade, mas também na sua essência: ser criança.

A verdade é que, na ânsia de “tratar o atípico”, muitas famílias esquecem de cuidar da criança. Da infância que está passando, do tempo que não volta, do desenvolvimento que acontece também nas pequenas coisas: num passeio na pracinha, num banho demorado com brinquedos, num cochilo no sofá depois de um dia cheio.

Seu filho precisa, sim, dos especialistas. Mas precisa, antes de tudo, ser visto como criança. Que nunca nos esqueçamos de olhar além do CID, do laudo ou do relatório.

Porque, no fim das contas, todo desenvolvimento acontece primeiro no terreno fértil da infância — e ela merece ser vivida, sentida e cuidada em toda sua completude. Ter espaço para o cuidado comum, para os rituais da infância, para o tempo de qualidade com a família, para escutar música e até ver TV , para a vida acontecendo além das terapias
Então, se você está lendo isso, respire. Olhe para seu filho, observe com amor.

E se pergunte: quando foi a última vez que você o enxergou como criança, e não como paciente?
Ainda dá tempo de equilibrar as coisas.

Porque o que vai marcar a infância do seu filho e construir uma linda história de vínculo afetivo não pode ser só as terapias…
Mas o quanto ele se sentiu simplesmente criança.
Vivida. Cuidada. Amada.

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Por tras de cada máscara existe um coração defendendo a vida.

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