As Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) representam a principal complicação na assistência ao usuário do sistema de saúde. Devem ser consideradas um desafio para equipe multiprofissional envolvida nos diversos níveis de assistência, principalmente pelo aumento de morbidade, custos institucionais, transtornos psicológicos para o paciente e familiares e aumento da mortalidade. Sua abordagem deve ser permanente, visando ao aprimoramento do cuidado e à proteção do paciente.
Em 12 de maio de 1998, o Ministério da Saúde decretou a Portaria nº 2.616, a qual mantém a obrigatoriedade da instituição e manutenção de uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) nos hospitais. Esta comissão é responsável pelo Programa de Controle de IRAS (PCIRAS) – um conjunto de ações desenvolvidas de forma sistematizada pelo serviço de saúde para a redução máxima possível da incidência e da gravidade das IRAS. Pesquisas mostram que quando os serviços de saúde e suas equipes conhecem a magnitude do problema das infecções e passam a aderir aos programas para prevenção e controle de IRAS, pode ocorrer uma redução de mais de 70% de algumas infecções como, por exemplo, as infecções da corrente sanguínea.
As IRAS são infecções adquiridas após o paciente ser submetido a um procedimento de assistência à saúde ou a uma internação, e que possa ser relacionada a estes eventos. É importante destacar que uma grande porcentagem destas infecções são evitáveis se forem executadas medidas eficazes de prevenção e controle pelos serviços de saúde, dentre elas:
Prevenção:
Higiene das mãos: Existem diversos estudos científicos que comprovam que higienização das mãos atua diretamente na prevenção da transmissão das infecções. A transmissão por contato é a principal via de disseminação de microorganismos multirresistentes, e ela se dá principalmente por meio das mãos dos profissionais de saúde, quando não higienizadas adequadamente, e pela contaminação de superfícies e equipamentos. A correta higiene das mãos, é considerada uma ação simples mas se realizada no momento certo e da maneira correta, pode salvar vidas. Ela não é apenas uma opção, uma questão de senso comum ou ainda uma oportunidade; ela corresponde a indicações durante a prestação de cuidados que são justificadas pelo risco de transmissão de micro-organismos.
Medidas de Precaução: O profissionais de saúde devem ter conhecimento sobre os meios de transmissão de cada doença e as precauções necessárias para prevenir/controlar sua disseminação nos ambientes de assistência à saúde. O uso adequado de Equipamentos de Proteção Individual e a aplicação correta das medidas de precauções Padrão para todos os pacientes e de Contato e Respiratória (Goticula e Aerossol) quando indicadas, são fundamentais para garantir a redução à exposição a agentes infecciosos e transmissão cruzada nas instituições.
Limpeza e desinfecção ambiental: Superfícies ambientais e equipamentos são apontadas como um grande reservatório de microrganismos nos serviços de saúde, por isso devem ser regularmente limpos e desinfetados para evitar a disseminação de patógenos.
Programa de Gerenciamento de Uso de Antimicrobianos: É uma abordagem multifacetada que inclui políticas, diretrizes, vigilância da prevalência-padrões de resistência e do consumo de antimicrobianos, além de educação e auditoria de seu uso.
Controle:
Vigilância epidemiológica: Monitoramento contínuo e análise de dados sobre infecções hospitalares ajudam na identificação de surtos e na implementação de medidas preventivas adicionais.
Isolamento de pacientes: Isolar pacientes colonizados ou infectados com patógenos multirresistentes ajuda a prevenir a transmissão cruzada.
Educação e treinamento: Capacitar profissionais de saúde sobre práticas seguras e atualizações em protocolos de prevenção é crucial para garantir adesão às diretrizes.
Manejo:
Tratamento antimicrobiano adequado: Iniciar tratamento empírico precoce e ajustar conforme os resultados de culturas microbiológicas contribui para o manejo eficaz das infecções.
Intervenções cirúrgicas: Cumprir rigorosamente as diretrizes de prevenção de infecções relacionadas a cirurgias, como preparação da pele do paciente e uso de antibioticoprofilaxia.
Avaliação de resultados: Monitorar a resposta ao tratamento e a ocorrência de complicações ajuda a ajustar as estratégias terapêuticas e melhorar os resultados clínicos.
É importante ressaltar a participação dos pacientes, familiares e visitantes nos cuidados e prevenção de IRAS. O paciente e a família devem ter participação na tomada de decisões sobre o processo de tratamento da doença, sendo de grande importância o envolvimento do paciente junto à equipe de saúde. Ao se sentir parte integrante da equipe de saúde, o paciente passa a compor o “time de saúde” podendo assim, contribuir com a segurança do seu próprio cuidado. Algumas recomendações importantes devem ser seguidas pelos pacientes e seus familiares para contribuir para a qualidade da assistência e a segurança do cuidado:
Tornar-se informado sobre sua doença, fazendo perguntas relacionadas ao tratamento;
Envolver um membro da família para estar acompanhando o tratamento;
Higienizar as mãos sempre que necessário;
Solicitar à equipe de saúde que higienize as mãos quando necessário;
Comunicar à equipe de saúde qualquer alteração relacionada ao cateter ou curativo;
Solicitar a familiares e amigos a não visitarem caso estejam doentes;
Cobrir nariz e boca com papel descartável quando tossir ou espirrar, desprezando após o uso;
A qualidade na assistência prestada nos serviços de saúde depende da atenção dos profissionais, mas também do envolvimento apropriado do paciente e sua família. A parceria entre paciente, familiares e profissionais de saúde contribui para o sucesso do tratamento.